POR QUE OS FILHOS COPIAM A ALIMENTAÇÃO DOS PAIS

Por que as crianças copiam os hábitos alimentares dos pais? Embora não seja possível mudar o que se passou conosco, podemos reconhecer o impacto desses eventos e ter consciência deles, para não repetir o ciclo



Sarah Ockwell-Smith, Huffpost



Se quisermos melhorar a alimentação das nossas crianças, temos de nos certificar de que estamos dando bom exemplo. Infelizmente, não é o que costumamos fazer. Muitas das nossas preocupações sobre a alimentação das crianças têm a ver com nossos problemas alimentares e crenças equivocadas…

Antes de começar a lidar com as questões que envolvem as crianças, temos de atacar nossos próprios problemas, do contrário vamos passá-los adiante ou criar novos problemas para elas. Às vezes até mesmo descobrimos que questões que achávamos ser das crianças na verdade são nossas, e elas estão comendo normalmente. Muitas das nossas crenças e comportamentos relacionados à comida vêm da nossa própria infância.



É normal que muitos de nossos hábitos alimentares sejam respostas condicionadas a algo que aconteceu conosco há décadas. Comer muitas vezes está intimamente relacionado às nossas memórias da infância – as boas e as ruins. Como pais, por mais que achemos – ou esperemos — o contrário, não somos objetivos em relação à comida. Nosso inconsciente influencia nossos filhos e o que eles comem, com base em eventos que aconteceram conosco muitos anos atrás. Embora não seja possível mudar o que se passou conosco, podemos reconhecer o impacto desses eventos e ter consciência deles, para não repetir o ciclo.

Pense na sua infância. Você lembra de ouvir algumas dessas frases dos seus pais, avós, tias da escola ou outros adultos? Chamo essas pessoas de “polícia da comida”. Suspeito que você tenha encontrado várias delas ao longo da vida:

“Muito bem, comeu tudo.”
“Ótimo, raspou o prato.”
“Vamos, coma tudo – tem crianças passando fome na África.”
“Só uma bocada — não vai te matar.”
“Se você não comer cenoura não vai enxergar no escuro.”
“Se não terminar o prato não tem sobremesa.”
“Não coma isso agora, você vai ficar sem fome para jantar.”
“Só mais uma colherada e você pode tomar sorvete.”
“Que menina linda, ela tem um apetite saudável.”
“Você não vai levantar da mesa enquanto não terminar de comer.”
“Se você não comer vai direto para o quarto e vai ficar com fome.”
“Você não sabe a sua sorte – tem crianças passando fome na África!”

Eu era uma menina comportada. Comia de tudo, não era enjoada. Raspava o prato e raramente jogava comida fora, o que rendia elogios. Minha autoestima estava em boa parte associada a “comer bem”. Sentia orgulho disso e, portanto, me sentia bem. Já deu para perceber onde a história vai parar?

Avance uns 30 anos e hoje em dia tenho dificuldades para controlar minha alimentação. Quando estou triste ou estressada, como para me sentir melhor, exatamente o que fazia quando era criança. Também demorei anos para superar a culpa de deixar comida no prato. Finalmente resolvi a questão do desperdício criando galinhas: elas comem as sobras dos pratos. Mas ainda sinto culpa quando desperdiçamos comida e não estamos em casa. Demorou muito mais tempo para resolver a comilança emocional. Sou adulta e sei de onde vêm minhas questões com comida, mas elas são muito difíceis de superar. O primeiro passo é ter consciência delas… e, acima de tudo, aprender a não passá-las adiante para meus filhos.

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